Publicamos aqui um documento dos bispos da França sobre as derivas sectárias, de Ir. Chantal-Marie SORLIN, Chefe do Escritório da Conferência Episcopal para Derivas Sectárias, junho de 2014
Tradução de Ana Azanza. Texto original em francês .
Esta lista de critérios segue um processo comportamental em quatro etapas cronológicas:
1. O culto à personalidade
Os membros do grupo sentem-se atraídos e agrupados em torno de um fundador com uma personalidade complexa em sua carreira e pretensões…
1.1 O nascimento do grupo
Uma disfunção no discernimento das vocações pode ter consequências nefastas. Abundam os exemplos de candidatos ao sacerdócio rejeitados em uma diocese, mas aceitos em outra. O mesmo se aplica ao reconhecimento de uma associação de fiéis ou de uma comunidade. Da mesma forma, os bispos suíços acabam de recordar esta exigência: “quando os candidatos ao sacerdócio ou à vida religiosa mudam de lugar de formação ou de comunidade, a informação deve circular entre os diretores de maneira clara e precisa”.
O Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica decretou a supressão do Instituto Religioso clerical Miles Christi de direito diocesano.
“Esta decisão foi especificamente aprovada pelo Papa Francisco em 6 de fevereiro de 2025”, disse um comunicado oficial.
Desta forma, concluiu-se a tarefa de Comissário Pontifício de Dom Jorge Ignacio García Cuerva e o Dicastério nomeou Monsenhor Mauricio Landra, bispo auxiliar de Mercedes-Luján, como delegado pontifício para a execução da supressão do instituto.
A comunicação traz a assinatura de Monsenhor Landra.
Texto da comunicação
Em 19 de fevereiro de 2025, o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica decretou a supressão do Instituto Clerical Religioso Diocesano Miles Christi de Direito Diocesano.
Esta decisão foi especificamente aprovada pelo Papa Francisco em 6 de fevereiro de 2025.
Conclui-se assim a tarefa de D. Jorge Ignacio García Cuerva como Comissário Pontifício, e fui nomeado pelo mesmo Dicastério como Delegado Pontifício para a execução da supressão do Instituto.
Notificamos o Instituto sobre esta decisão hoje.
Tendo em conta a delicadeza e a complexidade da situação, para que tudo se realize com justiça e caridade, para pôr em prática a decisão tomada pela Santa Sé, confiamos desta vez a Maria, Mãe da Igreja.
[Foto] No coração do Instituto Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará (SSVM), Yamile, ex irmã Clemens e suas irmãs de sangue, antes religiosas, enfrentaram um sistema marcado por manipulações e abusos. Das cinco irmãs religiosas, só uma permanece até hoje.
A ex-irmã Clemens, em seu testemunho em vídeo, com muita coragem e bravura, dá a conhecer os vários problemas vivenciados no IVE/SSVM, problemas que, com o tempo, se tornaram um modo de viver a vida religiosa.
Yamile apresenta sua história de como os padres do IVE manipularam sua vocação desde o início e a manipulação que fazem com as outras vocações por meio dos Exercícios Espirituais.
O IVE se vangloria de ser descendente de Santo Inácio nos Exercícios Espirituais, mas faz o oposto do que o santo pede. Por exemplo, o momento da Eleição Estado, o utilizam para induzir à vocação, fazendo com que todos vejam nos “Prós e Contras” um chamado à vida religiosa do qual não se pode fugir.
De acordo com Santo Inácio, uma Eleição de Estado só pode ser feita em tempos de calma, serenidade e sem inclinar a alma para qualquer estado.
Yamile estava saindo de um relacionamento de abusos, abortos e manipulaçoes por parte de seu noivo. Seus diretores espirituais, o teólogo moral do IVE, Padre Fuentes, e até mesmo o fundador conheciam sua história, mas a aconselharam a se entregar à vida religiosa como uma forma de purgar seus pecados e oferecê-los a Deus. Para uma pessoa que nem sequer havia curado suas feridas passadas?
As SSVM a recebeu no noviciado e lhe impôs o hábito, mesmo sabendo que ela dias antes havia pedido deixar o noviciado. Foi enviada para fazer os Exercícios Espirituais, dessa vez por um mês inteiro em silêncio, sem que nenhum pregador e seu diretor espiritual pudessem interpretar o que Santo Inácio realmente ensina? Que para fazer oos EE é necessario ter boa disposição!
Ou será que os padres pregam os Exercícios com o ensinamento do falecido Buela, que os usou como uma forma de recrutar vocações, a fim de aumentar o número de membros e, assim, evitar o fechamento do Instituto?
Conhecemos outros casos de irmãs que estando deprimidas tinham de fazer os Exercícios Inacianos todos os anos. É isso mesmo que Santo Inácio e a Igreja estão pedindo?
Poucos meses depois de entrar, Yamile adquiriu o hábito; em menos de um ano, os votos simples e depois os votos perpétuos. assim como ela, outras mais. Será que ninguém percebia que ela não estava apta a escolher qualquer vocação sem antes curar as feridas do passado? Yamile contou várias vezes e a diferentes padres sobre sua situação abusiva, tentando buscar ajuda, e a resposta foi o chamado de Deus para a vida religiosa. Isso mostra a falta de discernimento dos padres do IVE e o fim que eles buscam ao pregar os exercícios inacianos: ter mais “vocações”. Conhecida é a frase que repetem, “se há vocações, há frutos”.
Nas Servidoras, houve mulheres com divórcios recentes que tiveram o hábito imposto em poucos meses, jovens que entraram com 17 anos, outras que vieram do aspirantado, onde entraram com 11 anos e foram levadas a pensar que, se estão lá, é porque Deus as escolheu. Essas meninas menores de idade também fazem os Exercícios Inacianos e recebem as mesmas pregações.
No caso de Yamile, apesar de todas as más experiências passadas, ela obedecia, servia fielmente à Igreja sendo uma boa irmã religiosa. Foi nomeada superiora da comunidade de Gaza, mas nunca deixou de comunicar aos superiores as consequências que estava sofrendo, até que seu corpo expressou a dor de sua alma ecomeçou a adoecer.
Até que finalmente um grande médico com bom senso, um homem de fé, descobriu que ela estava “morrendo” em uma vocação que não era a sua.
Irmãs religiosas, missionárias no Oriente Médio: a primeira à direita é Yamile. Dessa foto, 8 religiosas de votos perpétuos deixaram o Instituto, abandonando a vida religiosa.
Esta semana 3 religiosas de votos perpetuos na Argentina deixaram a vida religiosa. Uma com mais de 30 anos de vida religiosa, superiora na casa provincial e em várias outras comunidades
Em diferentes partes do mundo, muitas estão deixando a vida religiosa, esta é uma informação que não deve ser dita, somente se informa quantas entram ao noviciado em cada país. Algumas, simplesmente nunca tiveram vocação, outras sim, mas devido a pressão e uma vida religiosa manipulada decidiram ir-se.
O problema do IVE é manipular as palavras de Santo Inácio para seu próprio benefício, vendo vocações onde não tem. Yamile, longe de qualquer rancor e com grande serenidade, nos envia a carta que enviou na época ao Secretário para a Vida Consagrada sobre seu caso, na esperança de que outras jovens não passem pela mesma coisa e não cedam à manipulação de consciência.
Que o IVE um dia pare de abusar dos santos Exercícios Inacianos para atrair vocações e causar os danos que vem causando!
O vídeo do depoimento de Yamile Peralta pode ser encontrado aqui.
Laura Campos, a heroína que decidiu relatar o sofrimento oculto de várias freiras abusadas pelo padre José María Corbelle.
Em um vídeo publicado recentemente no YouTube, relata calmamente as diferentes manipulações que ocorrem no Verbo Encarnado / Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, não apenas os casos de abuso sexual sofridos por algumas irmãs, mas também o que é mais terrível, a ocultação e a falta de empatia dos superiores a toda a desordem que ocorre dentro dessas paredes.
Sem ir mais longe, em resposta a estreia do vídeo, os sacerdotes do IVE em nosso país, consultando o Dr. Miguel Angel Fuentes sobre o que dizer, começou a circular entre os membros uma declaração escrita do mesmo: “Não semeie dúvidas”.aconselhando-os a “não encaminhar o vídeo e evitar assisti-lo”. A dúvida pode comprometer sua vocação, dizem eles. Aos leigos foram aconselhados a fazer a mesma coisa.
O comentário interno é: “Não duvidamos do que dizem, mas por que divulgar isso publicamente”.
Por quê?
Porque durante 30 anos, tanto o padre Carlos Buela, o padre Gonzalo Ruiz e as superioras sabiam do fato e ninguém fez nada.
Porque em 30 anos o padre abusador continua missionando pregando Exercícios Espirituais como se nada tivesse acontecido. Sem nenhuma advertencia! Será por sua amizade com o falecido Buela?
Porque já há uma denúncia em Roma e há mais vítimas dentro do convento e pode haver mais se isso não for interrompido,
porque existem outros tipos de manipulaçoes y abusos de consciência que também foram denunciados, como foi o caso de Mônica e
Porque, como no caso de Yamile, manipulada por seus diretores espirituais e vendo todos os tipos de abusos, tinha que ficar calada porque, diante de qualquer escândalo: “não devemos dizer nada, para o bem dos leigos“, “são leigos, não entenderão”, em suma, era calar-se pelo bem do Instituto.
O Instituto tornou-se mais importante do que Cristo, a caridade e a verdade. Defendem mais o Instituto do que o próprio Cristo (um Instituto que nem sequer é reconhecido pela Igreja como uma Congregação religiosa e, além disso, baixo intervenção vaticana).
No vídeo, Laura comenta sobre como as freiras são manipuladas pelos capelães que as instruem sobre o que dizer e como agir em qualquer situação que os comprometem. Como neste caso: assim que o vídeo foi divulgado, todos correram para o guru, padre Miguel Ángel Fuentes, e a resposta foi: “Não encaminhe, não assista… porque pode gerar dúvidas”, e todos os capelães começaram a repetir a mesma coisa. Um comportamento típico de uma seita.
O governo paralelo do IVE respondeu aos leigos que os questionaram sobre o vídeo com a frase: “essas não estão bem da cabeça”.Laura, por exemplo, foi Vigária Geral do Instituto, parte do Conselho Geral e Superiora por anos em diferentes missões, com um doutorado em bioética, e agora está louca?
O mesmo aconteceu com Monica (Piaghe), entrou saudável, era a vigária da comunidade (segunda no comando) em uma casa com mais de 120 crianças até que adoeceu com a sobrecarga física do trabalho que afetou seu estado anímico e psicologico. Enquanto estava saudável, cumpriu com seus deveres religiosos e com os cargos de autoridade que ocupava, mas quando ficou doente por causa do sistema abusivo e desumano do Instituto, o mesmo Instituto a convidou a deixar a vida religiosa.
Yamile, mesmo com todos os seus sofrimentos e dúvidas, trabalhou intensamente no Instituto, mesmo nos piores momentos de sua situação pessoal. Foi enviada para estudar em Roma, em Universidades Pontifícias (algumas são enviadas, uma forma de manter uma certa aparência), logo enviada como superiora para missões no Oriente Médio.
Todos as superioras, desde o início, conheciam seu caso, aproveitaram de sua força física, sua capacidade intelectual e sua liderança, sem preocupar-se com seus traumas passados. Quando não aguentou mais e foi embora, nem seuqera era lembrada como uma irma que entregou seu tempo e forças em missões mais difíceis.
Eu mesma ouvi da minhas superiora: “Coitada, tudo o que está fazendo por ressentimento!!!”, e outras frases como: “Que ingrata”!, “Agora fala mal da Congregação”, “Não respeita nem as irmãs que estão na Congregação”.
Que grande manipuladores são!
“Por fim, peço ao Dicastério para o Clero que faça uma investigação cuidadosa do padre José Corbelle. Para evitar estas situaçoes, pois durante 28 anos esses abusos foram encobertos, silenciados e temo que haja mais vítimas”, diz Laura no vídeo.
Ademais de expressar que esses abusos eram de natureza sexual, causando-lhe danos psicológicos e espirituais que ela sofreu durante anos.
Desde há um tempo, o Vaticano enviou religiosas como Visitadoras Apostólicas ao Instituto Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, devido as contínuas denúncias sobre muitas irregularidades que foram encubertas ao longo dos anos dentro dos muros do convento: abusos psicológicos, manipulações, abandono de pessoa e abuso sexual.
São centenas as religiosas que abandonaram a vida religiosa nesta Ordem, a grande maioria com mais de 25/30 anos de vida consagrada. Hoje muitas destas irmãs estão dispostas a não mais permanecer caladas e a enfrentar com a verdade o que realmente se vive no ramo feminino da “Família” do Verbo Encarnado.
Dos muitos testemunhos que chegaram à nossa redação, hoje compartilharemos o testemunho de 4 ex-servidoras, que com muita dor se dispõem a contar a dura realidade do que viveram no seu interior. Entraram como tantas outras com grandes desejos de santidade e de serviço, mas a realidade que viviam era bem diferente. Hoje é apresentado o testemunho de algumas delas, todas de votos perpétuos. Uma delas chegou a fazer parte do Conselho Geral de Roma, outras, também missionárias, decidiram não ficar mais caladas para que mais pessoas não fossem prejudicadas.
Yamile Peralta (ex-irmã María Clemens)
17 anos de vida religiosa, missionária no Oriente Médio, foi superiora das Servidoras na Faixa de Gaza. Ela nos conta sua história vocacional dentro das SSVM, a manipulação em sua vocação religiosa e as tristes consequências em sua vida. Era a mais velha das 5 irmãs religiosas, irmãs de sangue, que também ingressaram na mesma congregação e que, após muitos anos de vida religiosa, foram abandonando gradativamente o convento, apenas uma atualmente segue. Yamile nos explica as manipulações dos diretores espirituais e as consequências que ela teve que sofrer durante esses 17 anos dentro das Servidoras.
Laura Campo (ex-Irmã María del Milagro)
Laura, com mais de 30 anos de vida religiosa, teve que se afastar da Congregação, sofreu abusos sexuais por parte de um padre do IVE (reitor do seminário maior na época) ao ingressar no Instituto Sua história é comovente. Conta a manipulação que foi feita em seu caso para silenciar a verdade e como testemunhou o sofrimento de outras religiosas que também foram abusadas por esse padre. Laura tem uma vasta experiência na congregação desde que fez parte do governo geral e foi superiora de muitas comunidades. Hoje nos conta toda a verdade dentro dos muros das Servidoras e revela os responsáveis pelo encobrimento dos abusos.
Mónica Cobos (ex-Irmã María delle Piaghe di Gesu)
Mónica entrou com 18 anos e saiu com 41 anos Sem estudos básicos, sem contribuições aportadas para uma futura aposentadoria, sem onde morar e doente. Uma enfermidade devida ao estresse sofrido dentro da congregação. No início as servidoras cuidavam de um orfanato com mais de 120 crianças (em San Rafael, Argentina), atendidos por 10 religiosas, onde Piaghe era a vigária (segunda encarregada depois da superiora), dedicou toda a sua saúde em diversos trabalhos, conta também as diversas situações pelas quais passou, dos problemas que enfrentava, tanto ela como no mesmo apostolado; as inúmeras vezes que comunicou à superiora todas essas situações, mas que nunca houveram mudanças. Hoje, as superioras negam qualquer tipo de ajuda, assim como negam também à maioria das que vão embora. Mónica abre o coração e expressa tudo o que fizeram ela viver durante mais de 20 anos.
Kelly Sue Fitzharris (ex-Irmã Maria Lumen)
Kelly, uma americana que entrou para as SSVM nos Estados Unidos e logo foi nomeada superiora em uma comunidade no Harlem, Nova York. A superiora provincial designou para sua comunidade uma irmã religiosa de votos perpétuos que estava doente psiquiatricamente e a proibiu de contar às outras irmãs seu estado de saúde; isso desencadeou uma situação de desordem e mal-entendidos dentro da comunidade.
A ex-superiora M. Lumen acabou, entao, sofrendo um colapso em seu sistema nervoso e decidiu sair. Uma história dura de uma vida religiosa acelerada, superficial e levada ao estresse.